Projeto 10 cumes do Grupo Paulista de Montanhismo – PARTE I
Por Flávio “Chiko” Kitahara
NO MATO SEM CACHORRO NA CABEÇA DO CACHORRO
No extremo noroeste do Brasil, fronteira com a Colômbia e Venezuela, encontramos uma região conhecida como Cabeça do Cachorro, em alusão à figura do cão latindo. Sobre seu “dorso” repousa o Parque Nacional do Pico da Neblina (PNPN) que abriga os dois pontos mais altos do país: os Picos da Neblina (2.995,3 m) e 31 de março (2.974,2 m).
Com a iminente abertura do PNPN para a visitação, vetada desde 2003 salvo raríssimas exceções, o sonho de escalar o primeiro e segundo pontos culminantes do país pode se tornar realidade para muitos. Centenas ou mais pessoas aguardam ansiosamente por esse momento: a possibilidade de completarem a ascensão dos 7, 10, 11, 13 ou 35 cumes mais altos do Brasil.
Neste contexto, com o propósito de instigar e incentivar para que novos projetos sejam concebidos e vivenciados, será relatado mensalmente em sete textos: o Projeto 10 Cumes do Grupo Paulista de Montanhismo (GPM), realizado entre 2005 e 2006.
LEVANDO BOLO PRA FESTA
Casamento de montanhista é uma boa ocasião para encontrar os velhos amigos com novos projetos. A data não era difícil de esquecer: 02/02/2002. Foi a primeira vez que Roberto Rosa, montanhista e mergulhador, apresentou a concepção do Projeto 10 Cumes (P10C), cuja proposta preconizava a evolução de montanhistas, realizando de forma gradativa e planejada, as ascensões dos 10 pontos culminantes do Brasil.
MAS POR QUE 10 CUMES E NÃO 7, 11, 13 OU 35?
O conceito dos 7 cumes teve origem no projeto de Richard Daniel “Dick” Bass, empresário norte-americano, que escalou a montanha mais alta de cada um dos sete continentes, considerando-se a América do Norte, América do Sul e a Antártida. Concluiu pioneiramente seu desafio em abril de 1985 e contou a façanha em Seven Summits.
Já no Brasil, a primeira ascensão documentada de todos os sete pontos mais altos do país foi realizada pelos montanhistas Gustavo Timo e Marcelo Andrê, idealizadores do Projeto Brasil nas Alturas, executado pela Brasil Aventuras Expedições, empresa mineira especializada em turismo de aventura e ecoturismo. Durante quinze meses, de janeiro/1999 a abril/2000, conquistaram os sete picos culminantes do Brasil, levantando as potencialidades ecoturísticas das regiões visitadas.
O guia de montanha Orlei Jr, idealizador do Projeto 7 Cumes Brasileiros, foi o primeiro gaúcho a realizar todas as ascensões entre julho/1997 e maio/2006. Desde então, dedica-se ao Projeto 7 Cumes da América do Sul: escalar as sete maiores montanhas da América do Sul.
O casal Eduardo e Adriana Gribel e seus filhos Renato, André e Mariana foram vítimas do “vírus da montanha”. Pode-se dizer que é um “mal de família” e, juntos, também subiram os sete pontos culminantes do país de 2003 a 2004.
Também em família, o casal Clayton Souza e Daiane Oliveira com seu filho Cauã foram os protagonistas do Projeto Cauã, 10 anos – 10 Cumes. Ao completar dez anos, o garoto prodígio alcançou dez dos doze cumes mais altos do país (https://www.gpm.org.br/pt/sobre-o-caua-criancas-e-montanhas/).
O fotógrafo André Dib registrou em belas imagens as ascensões das 11 montanhas mais altas do Brasil.
Arlindo Zuchero, ex-bancário, nascido e residente em Concórdia (SC), é autor e protagonista do livro Montanhismo: 13 Cumes do Brasil. Juntamente com o seu cunhado Édio Furlanetto, associado ao Clube Paranaense de Montanhismo (CPM) à época, realizou a saga de alcançar os 13 pontos mais altos do Brasil, no período de fevereiro/1997 a abril/2004. No livro, Zuchero e Furlanetto reivindicam o pioneirismo do feito.
O AEB do IBGE relaciona anualmente os 35 pontos mais altos do Brasil e, muitos montanhistas estão na trilha há anos para completar as ascensões de todos.
São as mais variadas motivações que norteiam esses obstinados montanhistas a alcançarem seus objetivos, sejam 7, 10, 11, 13 ou 35 cumes… Vão desde o ineditismo, pioneirismo, reconhecimento, registros fotográficos à divulgação e incentivo ao turismo local e, em maior ou menor proporção, todos fomentam o Montanhismo.
Nesse sentido, o Grupo Paulista de Montanhismo adotou, planejou e executou o Projeto 10 Cumes, cujo objetivo era promover a evolução de montanhistas através da interação dos iniciantes com os mais experientes, realizando de forma gradativa e planejada, as ascensões dos 10 pontos mais altos do Brasil.
Ao contrário de outros projetos similares que realizaram as ascensões em solitário ou em grupos fechados, este projeto foi aberto à comunidade de montanha. Participaram montanhistas do Clube Alpino Paulista (CAP), Centro Excursionista Universitário (CEU) e do GPM, todas entidades sem fins econômicos e filiadas à Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo (FEMESP).
Segundo o Anuário Estatístico do Brasil (AEB) 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os onze pontos mais altos do Brasil estão ilustrados a seguir.
Dos onze cumes ilustrados, nove estão em parques nacionais: Parque Nacional do Pico da Neblina, Parque Nacional do Monte Roraima, Parque Nacional do Caparaó e Parque Nacional do Itatiaia. Neste último estão localizados o Pico das Agulhas Negras, Morro do Couto, Pedra do Sino de Itatiaia e Pedra do Altar que, juntamente com Pedra da Mina e Pico Três Estados totalizam seis cumes dentro de um raio de 250 km, considerando-se como base a cidade de São Paulo.
Nos últimos 15 anos, a relação dos pontos mais altos do Brasil no AEB foi atualizada em 2004, 2005, 2007, 2008, 2012 e 2016. Esta última atualização obtida a partir da versão 2015 do modelo de ondulação geoidal (MAPGEO2015) vigora até os dias de hoje.
DEZ QUE VIRARAM ONZE
Quando da realização do P10C, a relação de pontos mais altos do país no AEB apresentava um empate na 10ª posição entre o Pico Três Estados e a Pedra do Altar, ambos com 2.665,0 metros de altitude. Bom, quem faz dez, faz onze!
Somente em 2016, o AEB revisou a altitude de nove entre os onze pontos mais altos, desempatando a 10ª posição que ficou com o Pico Três Estados e a Pedra do Altar, dois metros menor, fica com a 11ª posição.
BORA? FUI!
As atividades de planejamento começaram em outubro de 2004 elaborando-se uma programação que se iniciava em abril de 2005 e se encerrava em fevereiro de 2006. Procurou-se seguir uma sequência dos mais fáceis para os mais difíceis e não do mais baixo para o mais alto porque a diferença entre picos subsequentes não passava de dezenas de metros e não seria significativa. Com o propósito de começar pelos mais fáceis, o grupo ganharia em confiança, entrosamento e segurança.
QUEM PARTICIPOU?
Considerando-se todas as etapas do projeto, participaram um total de 59 montanhistas, dos quais 15 realizaram, pelo menos, 5 ascensões.
Somente um montanhista cumpriu todas as etapas do Projeto 10 Cumes, ou seja, realizou todas as ascensões dos dez (onze) pontos mais altos do Brasil nas datas originalmente previstas. Quem foi? Mais detalhes no próximo capítulo…