Nó desfeito
Por Renato Alves Jacometti
Estava pensando em como começar este texto e, já que o pano de fundo é a escalada, comecemos por procurar a ponta da corda? Talvez não. Não se necessita de um pretexto, de um objetivo claro, nem mesmo de um acidente de percurso. Iniciei um curso de escalada, pois queria ampliar meus horizontes, fazer algo diferente que proporcionasse contato com a natureza… acabei por me deparar com a minha própria. Medo de altura? Já tive.
O medo te afasta de coisas ruins, te alerta sobre os perigos, porém te inibe. Nem sempre bom. Superado, o suficiente.
Pois bem, iniciemos: face à pedra, instruções claras, dia bonito, vista linda e o objetivo lá no alto. Mão aqui, pé ali, não foi dessa vez. Tenta diferente, mão ali pé aqui. Ainda não. Face ao desafio, à dificuldade. Se esforça, transpira, para, pensa. Evolui e supera. Aprende a encontrar um caminho, uma alternativa, a entender que é um aprendizado, uma evolução que tudo na vida passa e que sempre é possível se superar. Satisfação.
Novo dia, novo desafio, na mente e na mochila tudo pronto para que, da mesma forma se vença. Confiança e ansiedade. Estica a perna, apoia a outra, agarrão à vista, só mais um pouquinho… queda. Por que? Tenta, sua, mais para à direita e não sai do lugar. Duas, três, quatro vezes. Sucesso! Alívio, pois o mais difícil foi superado, basta seguir em frente. Sobe um pouco, mais à direita, não falta muito. Mão aqui, pé ali, não foi dessa vez. Tenta diferente, mão ali pé aqui. Ainda não. O tempo passa, não há agarras, não há apoio. Cansaço, suor, tensão… medo. Medo? Sim, aquele que não foi superado.
Corda segura, apoio. O risco da queda quase inexiste. O sentimento que corre é o medo do fracasso, de não encontrar aquele ponto de apoio tão importante que te levará adiante, a atingir o objetivo. Não vou conseguir, não há saída, não meio, penso. O corpo se retesa cada vez mais. Não há preparo que suporte por tanto tempo. O peso do corpo na ponta dos pés, os olhos percorrem a parede, qualquer tentativa parece válida, mas fracassa e parece que se passa uma eternidade.
Ouvidos atentos às orientações, às palavras de apoio. Tenta-se o óbvio, o diferente, até o que se sabe que não é possível. “Isso, garoto!”, ouço lá de cima. Não sei o que aconteceu, como aconteceu, apenas sinto um alívio, correndo por todo o corpo, aquela tensão se esvaiu e o caminho, de repente, é possível. Poucos segundos e tudo fica para trás. O caminho ainda é longo, tortuoso, sempre íngreme, claro. A descoberta, acima descrita, leva um tempo a ser compreendida, lapidada e internalizada como uma transformação.
Um novo sentimento catalisador de uma mudança ou, ao menos, da necessidade de tal. Todo obstáculo é transponível, a força, seja mental, física ou espiritual de cada um dita a dificuldade, o tempo e o esforço necessários. Pode-se levar a vida toda, o essencial é não desistir. Nada será como antes.