Minha jornada ao Kilimanjaro
por Fabio David Tomaspolski – CBM 2022
Tanzânia 23.07.24, esperando o voo no aeroporto de JRO. Publiquei no grupo do WhastApp do GPM minha viagem ao Kilimanjaro e lá vem o Chiko (Flávio Kitahara) no particular: Fabio, topa escrever algo para publicar no site? Não tive dúvidas, é claro! Uma solicitação do mestre que desenvolveu a minha paixão pela montanha não tem como negar.
Antes de começar, preciso agradecer a todos os envolvidos no GPM e aos meus amigos do CBM (Curso Básico de Montanhismo), não estaria aqui se não fossem vocês. Em especial, ao Chiko por seu coração e maestria infinitos e ao William Yamamoto por tempo, ensinamentos e amizade que não cabem no peito.
Chegar no cume do Kilimanjaro não se resume apenas em planejar a viagem, existe uma evolução que só se entende quando olhamos para trás. No meu caso, foi com a minha ex-namorada que tudo começou. Com ela, tive contato com a minha primeira escalada indoor. Mal sabia que era o início da jornada ao ponto mais alto da África, minha primeira alta montanha.
Ela era a minha referência de montanhismo na época. Fui pesquisar na internet e vi que havia um Curso Básico de Montanhismo ministrado por vários clubes no Brasil. Ela, sendo carioca, e conversando com alguns colegas, viu que o GPM possuía ótimas referências do curso em São Paulo.
Assim, lá fui eu, investindo no CBM do GPM em 2022. Tudo que aconteceu entre o CBM e o Kili é uma história que depois conto, mas o ponto é: sem dúvida nenhuma o GPM fez total diferença.
Em janeiro de 2024, fui morar na Cidade do México e fiz algumas trilhas por lá. Mas, percebia que me faltava algo, alguma coisa que não sabia ao certo o que podia me preencher e desafiar, então busquei expedições em diferentes locais do mundo.
Quando achei a excursão do Kilimanjaro pela Morgado Expedições, perguntei ao Chiko sobre a empresa. Ele respondeu que o Agnaldo Gomes era guia de lá e que já havia participado de algumas saídas com o GPM. Assim, parti do México rumo a Tanzânia em 12.07.2024.
Encontrei o grupo depois de 1 dia de atraso perdendo a visita à Tribo Massai e fomos direto para o primeiro campo base, rota Lemosho Northen Circuit. Uma rota menos popular e com maior tempo de aclimatação.
Foram 6 dias de aclimatação, dia de cume e dia de volta. A rota é magnífica, começamos no Lemosho Gate a 2,1km de elevação, passamos pela floresta vendo macacos muito próximos de nós, vegetação tropical e pernoitamos na mata. Na manhã seguinte, as perguntas foram: você escutou aquele barulho? E aquele outro? Enfim, decifrar os sons dos animais na floresta não foi exatamente um sucesso, mas todos estavam radiantes com a experiência.
No segundo dia, a paisagem começava a mudar e a elevação aumentar, chegamos a MTI Mkubwa Camp a 2,6km de elevação, após caminharmos 7km. Gradualmente, enquanto subíamos ao próximo acampamento, a floresta tropical se transformava em vegetação charneca (mais árida e com vegetação rasteira), o clima ficava mais seco e com formações rochosas maiores. Conforme caminhávamos, no meio da vegetação, a montanha com seu cume de gelo se evidenciava, um espetáculo de tirar o fôlego. A partir deste momento, só se escutavam os cliques das câmeras dos celulares, todas atentos à esplendorosa visão, que se tornaria nosso próximo objetivo depois chegarmos ao acampamento Shira I, a 10km de distância.
O Third Cave (3,8km de elevação) foi nosso próximo acampamento, onde nos aproximamos mais um pouco e começamos a rodear o Kili até o dia de cume. Com o aumento da altitude passamos o nível das nuvens, o frio e o vento ficaram mais intensos. Sentimos os primeiros impactos da baixa quantidade de oxigênio no ar da alta montanha.
Até chegarmos ao School Hut, campo base de onde saímos para o dia de cume, são 2 dias de contorno pela face norte do Kili, onde dormimos acima de 4.000m de altitude, o que fez toda a diferença para aclimatarmos. É difícil se acostumar com a falta de oxigênio… é uma experiência única de superação. Nos dias em que contornamos a face norte, próximo à fronteira do Quênia, não nos deparamos com a neve, pois o degelo naquela região foi mais rápido. Encontramos em um dos vales que cruzamos, uma carcaça de búfalo com aproximadamente 2 anos. Os búfalos vêm do Quênia em busca de comida cruzando a fronteira com a Tanzânia e um deles ficou pelo caminho por algum motivo que não conseguimos descobrir.
Quando chegamos ao School Hut já havíamos caminhado 55km. As nuvens estavam abaixo de nós, olhávamos para cima e já não víamos mais o Kili do campo base. Estávamos no pé da montanha e na base da trilha da principal ascensão, as pedras e os desníveis eram tão grandes que não víamos o cume. A emoção apertava e sabíamos que faltava apenas 10h para descansar e começar a subir à meia-noite.
Às 23h45 nos reunimos todos para tirar uma foto antes da esperada subida ao cume. O coração batia mais forte, água e comida checados. Fizemos um ótimo processo de aclimatação, hidratação e briefing diários com o Morgado, além de todas as conversas, dúvidas e troca de informações que tivemos durante os dias. Estávamos prontos. Naquele momento, vinha o flashback de tudo que aprendi no CBM e implementei durante os últimos dias, desde vestimenta, comida, forma de caminhar e utilização do bastão.
Vamos lá, começamos a piramba do Kili após tirar foto e headlamps acesas. Bora cambada!
Uma trilha em zig-zag que NÃO ACABAVA MAIS. As pessoas começaram a se distanciar uma das outras, as camadas de gelo ao longo da subida começaram lentamente a desaparecer, dando lugar às formações rochosas. A caminhada passava a ser um trepa pedra e, após 05h40, chegamos ao Guilmans, nosso acesso ao Kili. Olhamos para trás e o sol começava a raiar juntamente com os nossos sorrisos.
Nossa meta ainda não havia acabado, tínhamos mais 1.9km de crista até o Uhuru, ponto mais alto do Kili. E lá fomos nós, mais 1h de caminhada na crista do Kili, 5.000m de altitude, com o ar rarefeito. A densidade do ar é igual a um cano de ar sobre nossas cabeças. Imaginem que no nível do mar a densidade (espaço entre as moléculas) é de 100%, no cume do Kili é de 60% e no cume do Everest, de 30%.
Chegando ao Uhuru a emoção foi única, difícil colocar em palavras tudo que foi feito e aprendido desde minha primeira interação com a montanha para conseguir chegar lá.
Mas um único fato eu tenho certeza: essa jornada começou há muitos anos sem que eu soubesse, que os envolvidos estão sendo reconhecidos, agradecidos com a minha chegada e retorno seguro. Agora era o momento de descer, se recuperar e planejar a próxima.
Obrigado pelo tempo dedicado na leitura.
Beijos e abraços a todos.
Morgado, Ju, Chiko e Will, um beijo e abraço especial a vocês.