Meu Everest
Era um Domingo, 18/06/2023, primeiras horas da manhã. Eu já podia avistar o cume, mas ainda havia uma longa jornada à frente. A janela era única e, se não aproveitasse aquele instante, teria que esperar mais um ano…
Mas afinal, o que é o Everest?
É muito mais do que uma montanha. A mais famosa do mundo.
Everest é um ícone. Uma meta. Uma conquista.
Meu Everest estava bem mais perto, mas nem por isso, mais fácil. Tudo depende do seu ponto de vista, da sua motivação e de como você encara o desafio.
Em grande parte da minha vida fui sedentário. Não tenho a disciplina exigida e recomendada para atividades esportivas outdoor. Minha massa varia entre sobrepeso e obesidade. E, não bastasse tudo isso, tenho lesões avançadas no menisco de ambos os joelhos. Tudo junto, parece a receita ideal para ficar em casa, sentado no sofá, surfando na internet, comendo guloseimas e engordando um pouco mais. Só que eu quis fazer diferente… Às vésperas dos meus 55 anos.
Para alguns dos alunos que estavam comigo no CBM (Curso Básico de Montanhismo), aquele domingo fora trivial. Apenas mais um cume, de vários já conquistados. Para mim foi o ápice de uma preparação que perdurou por meses. Encaixar treinos numa agenda profissional repleta de viagens e reuniões não é nada fácil. Principalmente para quem sempre teve o comodismo e a preguiça como grandes companheiros.
Conhecendo e convivendo com escaladores, aprendi a “respeitar a montanha”…
Desde o princípio eu tive o Pico das Agulhas Negras como sendo o maior desafio que eu iria passar ao longo do curso.
Várias noites mal dormidas. Dores nos joelhos e lá estava eu, iniciando a caminhada de aproximação. A cada passo dado a montanha se tornava mais nítida e a tensão ia tomando corpo.
Optei por não assistir aos vídeos com as passagens mais difíceis que teríamos no dia. Foi uma sábia decisão. Se o tivesse feito talvez não iniciasse a jornada dominical.
Enquanto eu subia, pude perceber que meu cérebro dava bons comandos ao corpo; o problema era que muitas vezes o corpo não respondia; faltava energia ou flexibilidade. Aos poucos fui descobrindo movimentos alternativos diferentes dos demais, mas que levavam ao mesmo objetivo. Nos pontos mais íngremes veio a falta de energia. Quando o corpo precisava de pausa e oxigênio. E nessa hora rodava o mesmo filme na cabeça…
Num passeio de bike em São Paulo tínhamos uma longa subida pela frente e eu decidi concluí-la sem parar de pedalar. Mantive o foco e o ritmo constante por longos minutos. Me concentrei como se estivesse em Itatiaia. A subida parecia interminável, e a cada pedalada eu imaginava que estava um pouquinho mais perto do cume. Quando a energia faltou eu busquei forças dentro de mim, sempre tendo Agulhas Negras como meta… Eu só não podia imaginar que aquele fato seria usado por mim como automotivação… E foi assim, a cada metro alcançado lembrava das minhas pedaladas e subia mais um metro…
Finalmente, às 11:30am. Coloquei meus pés no cume. Pisei firme na rocha, olhei para o horizonte e respirei fundo. Fiquei estático, congelado, como se o tempo tivesse parado. Cada célula do meu corpo sentia aquele momento e um mix de sensações começou a tomar conta de mim. Então acordei daquele transe e meus olhos buscaram pelo meu filho, que havia me acompanhado naquele momento mágico. Fui caminhando em sua direção, já no topo da montanha, em passos lentos e firmes, e enquanto andava meus olhos foram se enchendo de lágrimas… Abri meus braços em busca do abraço mais desejado do mundo e, quando fui correspondido, desabei num misto de suspiros, soluços e muito choro…
Para você, que seguiu meu texto até aqui, deixo meu conselho. Busque seu Everest! Ele pode não estar tão distante como o do Himalaia, mas será tão desafiador quanto aquele, ou até mais… E no final, lhe garanto, a emoção que sentirá no cume será ímpar e inesquecível!
Alexandre Tauszig
Aluno do CBM – 41ª turma (2023)
(este relato e experiência é dedicado à Giorgia, minha incentivadora, disciplinadora e fonte de inspiração)